segunda-feira, 31 de outubro de 2011

A SEMANA DA ZIQUIZIRA

Prólogo

Eu trabalho na Victoria University dois dias por semana (os outros três, trabalho em casa pra Editora Bonijuris). E toda vez que eu chego lá, minha chefe, que é uma pessoa muito legal, sempre me pergunta How are you? E não é um “oi, tudo bem?” da boca pra fora; ela pergunta realmente querendo saber como eu estou, como está indo a gravidez e tal. E da mesma forma, eu penso antes de responder, e minha resposta sempre foi : “I’m very well”, ou “we’re great”, “everything is good!”

Na quinta passada, logo depois de eu responder, pensei comigo mesma que eu tinha muita sorte de sempre ter uma resposta positiva pra dar, de estar sempre me sentindo tão bem nesses seis primeiros meses da gravidez. How lucky I am!


Parte I: A primeira noite em claro – treinamento?

Quinta-feira o dia transcorreu como normalmente, à noite dei uma aula de dança que foi bem tranquila, nada de novo, sem grandes esforços físicos.

Como sempre, saio rapidinho da aula pra chegar em casa a tempo de ver X Factor, que eu a-do-ro! No meio do programa, começo a sentir um desconforto na coluna, num local em que nunca senti antes. Não era nem na lombar, nem na região dos ombros, mas mais no meio. Que estranho, pensei. Dei mais uma alongadinha, mas sem resultado. Quando chegou a hora de dormir, o desconforto já estava grande, porém talvez se eu deitasse, fosse melhorar. Ledo engano! Eu simplesmente não encontrava posição pra dormir. Virava de um lado pro outro, tentava de barriga pra cima um pouco, cada posição me dava um alívio de dois segundos (não tô exagerando, eram dois segundos contadinhos) e voltava o desconforto. Depois de umas quatro horas nessa, desisto de ficar deitada, levanto, começo a andar pela casa (quem sabe alivia?), sento, resolvo me distrair um pouco na internet, mas o desconforto não passa. Começou a me dar um desespero de não ter posição, de não poder dormir, que logo eu já estava chorando por aí. O De eu não quis acordar. Quando passavam das 4.30 h da manhã, resolvi voltar a deitar. A dor continuava, mas eu disse pra mim mesma que a dor do parto seria bem pior, então que eu tentasse ignorar essa dor e dormisse. Fui respirando fundo, concentrando na respiração e pelas 5 h finalmente consegui. Acordei às 7h, o despertador do De tocando, a dor ainda ali. Aproveitei que ele estava desperto e contei da minha saga noturna. O De passou um gelol na minhas costas e sugeriu que eu ficasse em casa. Preferi ir trabalhar, ao menos por algumas horas, onde eu teria algo em que me concentrar, do que ficar em casa ligada na dor. Levantei devagar e senti que a dor tinha melhorado um pouquiiiiiiinho.

Chegando no trabalho, minha chefe, é claro, perguntou: How are you today? E pela primeira vez tive que dizer: “Not very well, to be honest...” Aí contei pra ela da minha desventura e também do meu pensamento do dia anterior. Nesse momento ela até riu: que ironia da vida!, ela disse. Total ironia... Acabei rindo também...!

Aguentei trabalhar umas 4 h e voltei pra casa. No caminho, passei numa farmácia e comprei aquelas bolsas de gel que tu esquentas no microondas. Fui dormir com a bolsinha nas costas e acordei duas horas depois me sentindo beeeem melhor. Continuei com a bolsinha direto, inclusive pra dormir mais tarde, e no sábado de manhã eu estava me sentindo ótima. 100% mesmo! Ai, que alívio!

Eu não sabia o que o futuro próximo me reservava...


Parte II: Conhecendo o hospital

Bom, no sábado eu tinha um workshop de dança de fan veil, e decidi que não iria perder, pois ia exigir mais de braços do que de costas. De fato, foi isso. O que aconteceu foi que eu me esqueci de levar uvas-passas pra comer no intervalo, e na segunda metade comecei a sentir frio e percebi minha pressão mais baixa. Peguei mais leve, mas fui até o final. Na saída comprei nosso almoço e fui direto pra casa. Tinha a certeza de que tinha me sentindo mal por ter ficado muito tempo sem comer. Não me senti nem um pouco bem psicologicamente falando também; penso sempre no Caio...

Em casa, já bem alimentada, comecei a sentir uma dor de cabeça e um cansaço...! E eu nunca tenho dor de cabeça. Também senti uns calafrios...Ihhhhh,não gosto de calafrios, será que tô pegando uma gripe? Resolvi tomar um paracetamol e descansar. O remédio em efeito fez eu me sentir melhor e fiz até muffins pra gente, pela primeira vez (ficou uma delícia!). À noite fomos jantar na casa de uns amigos, e lá comecei a sentir muito calafrio e a cabeça pesada. Eu sei que quando me dá calafrio, é febre. E febre é sinal de infecção. Porque estávamos no meio do jantar e eu não queria estragar as coisas, tomei outro panadol, mas ao mesmo tempo comecei a me preocupar mais com o que estaria causando isso. E os únicos dois sintomas que eu tinha eram febre e dor de cabeça; não tinha dor de garganta, nariz escorrendo, tosse, espirro, nada! Ou seja, poderia ser qualquer coisa. Fui ficando bem preocupada, mas depois da janta, o analgésico estava em ação, então eu já não sentia mais nada. Não adianta ir pro hospital agora, sem sintoma nenhum. Vamos pra casa e quando passar o efeito do remédio, a gente vai na emergência; esse era o plano.

Acordei no meio da madrugada pra ir ao banheiro e ao levantar da cama eu tremia muito... Que frio. Voltei correndo pra debaixo das cobertas e de repente me dava um calor! Senti minha temperatura, mas não estava muito alta; eu sabia que não tinha chegado nos 39 graus, que é o que dizem que pode prejudicar o bebê (sim, isso é mais no primeiro trimestre e eu já estou no final do segundo, mas a gente sempre se preocupa, né?), fiquei com a bolsinha de gel, agora geladinha, na cabeça pra segurar a temperatura. Umas três horas depois não dava pra segurar mais – era hora de ir pro hospital, já que meu médico não ia estar no consultório a essa hora e eu não me senti à vontade pra acordar a midwife às 6 h da manhã de domingo.

Acabamos saindo de casa às 7 h, o sol lindo com a cor da manhã.

Pela primeira vez entrei no Hospital de Wellington, o mesmo em que o Caio vai nascer. Claro, não era a ala dos nascimentos, mas mesmo assim gostei do que vi. Tudo novinho, sem cara nem cheiro de hospital. Na recepção da emergência, havia até uma área pras crianças! Tinha pouca gente lá na frente, falei com a menina do balcão, ela disse que uma enfermeira ia me ver primeiro, pra fazer a triagem. Esperamos meia hora, nos perguntando por que, se não tinha praticamente ninguém mais ali. Eu senti que minha temperatura tinha baixado mais; a alternância frio-calor tinha diminuído muito de intensidade, eu me sentia apenas cansada. Finalmente a enfermeira nos chamou. Conversamos, ela disse que eu não parecia mal, que não deveria ser nada muito sério, mediu minha temperatura, disse que eu estava com um pouquinho de febre mas não me disse quanto e eu esqueci de perguntar – que viagem –, também mediu minha pressão, que estava baixa como sempre, e disse que iria me colocar na fila de ver o médico, e que isso poderia demorar de 2 h a 4 h. Ah, ela perguntou se eu tinha algum sintoma de infecção urinária, hipótese que eu mesma já tinha considerado, mas a verdade é que eu não sentia nada de errado, nada mesmo. Ela pediu pra eu fazer uma coleta de urina que ela ia fazer o teste. E, bingo, não deu outra, leucócitos presentes na urina, sinal de infecção.

De qualquer forma, eu teria que ver o médico, ela explicou, pois é ele que prescreve o antibiótico.

Voltamos pra sala de espera e depois de dois minutos já fomos chamados. Uma outra enfermeira nos encaminhou pro que eles chamam de cubículos, um quarto que nem é pequeno, limpíssimo, com uma cama, cadeira, pia, vários aparatos médicos, etc. Lá esperamos duas horas pelo médico, mas confesso que a espera nem foi assim tão dolorosa. Deitei na cama e alternei meu tempo entre conversar com o De e dormir um pouquinho. Volta e meia chegava uma enfermeira ali pra ver se estava tudo bem, numa dessas mediram minha temperatura de novo (desta vez perguntei, estava 37.1) e também a pressão. Todo mundo muito gentil e atencioso.

Até que o médico chegou. Me surpreendi com sua simpatia, pois eu acho os médicos daqui muito frios (já fui em uns três diferentes por causa dos exames médicos que tem que fazer pra Imigração). Ele tem uma filhinha de 11 meses, então se interessou pela nossa gravidez. Falou que é bem comum ter infecção urinária nessa fase (me deu a explicação biológica, mas não sei repassar), e que tem antibiótico que não prejudica o bebê, e que mesmo a febre a essas alturas não afetou o bebê em nada, que eu não me preocupasse. Perguntou se eu estava sentindo ele mexer, e de fato eu estava (a verdade é que não senti nada anormal na barriga, então no fundo eu achava que estava tudo bem, apesar do medinho). Me passou a receita, só disse pra qualquer mínima alteração eu voltar lá, qualquer coisa que eu ache que não esteja indo bem, por menor que seja, pra não arriscar nada.

No caminho compramos o remédio. Tendo saído de casa às 7 h da manhã, chegamos de volta às 11 h. Só de ter descoberto o que estava causando a febre e de estar medicada, eu já me sentia melhor. Também gostei do tratamento que tive, do sistema de saúde da NZ. Quanto gastei? NZ$ 4,00, do remédio. Todo o restante foi gratuito. Fiquei feliz que o Caio vai nascer aqui.

Depois de tomarmos café da manhã, o De, tadinho, teve que excepcionalmente ir trabalhar num domingo. Eu coloquei um filme, deitei no sofá e não cheguei a assistir nem cinco minutos. Dormi direto do meio-dia às 4 h da tarde, hora em que o De voltou. A verdade é que passei o resto do dia todo deitada.

Respiro fundo e volto a acreditar que minha resposta pra minha chefe vai voltar a ser sempre “I’m feeling just great!”

7 comentários:

  1. oi Du! Só desejo que não apareça mais nada! Muita saúde pra você. Beijo!

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  2. Du...........
    que experiência! De bom, fica a sensação de que tu podes confiar plenamente no sistema de saúde da NZ, não é?!

    bjo e boa semana!
    ps. tenho que dizer o quanto tua forma de escrever é suave e gostosa de ler!!
    bjo
    olga

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  3. Oi Dulcinha!!

    Sem querer te desanimar para mim o terceiro trimestre, em especial o último mês, foi o mais difícil. Eu sentia tanta dor na coluna que dormia muito mal. Pensei várias vezes que estava treinando para passar noites em claro com o bebê, mas passei a dormir muito melhor depois que o Bebê nasceu! Claro que ainda acordo uma vez ou duas todas as noites, mas pelo menos quando eu durmo eu durmo sem incômodos. Também tive uma pequena infecção urinária que tomei antibiótico receitado pela médica. Duas dicas: primeira: atenção, quando a gente se sente sempre muito bem acha que pode fazer tudo e se esquece de tomar alguns cuidados que a gravidez merece... você agora está no terceiro trimestre e precisa redobrar os cuidados para o bebê não nascer prematuro!! Estragar um jantar não é nada... Segunda: Médicos e midwifes quando escolhem esta profissão sabem que podem ser acordados as 6h da manhã de um domingo. Não deixe de pedir ajuda quando não se sentir bem.
    Boa sorte, Ângela

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  4. Amiga querida, foi só um susto e que alívio, passou! Mas como disse a Ângela, estragar um jantar não é nada e pode ligar sim na madruga pra quem precisar! Cuide agora nessa reta final, vc precisa de calma, tranquilidade e coisas boas!!! Bolsa de água quente é 10 pros incômodos musculares que agora podem ser mais frequentes. Cuide-se e tbém do meu afilhado!!!! Bjs mil da Dani

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  5. Meninas, valeu a força. Já está tudo ótimo e inclusive minhas costas não me incomodaram mais nenhum pouquinho... Vcs sabem que sou sensitiva e pego certas coisas no ar, não? Foi isso.
    Adoro que o blog me deixa assim mais pertinho de vcs! :) bjssss

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  6. Dulcinha e Caio,
    estamos ansiosas por mais notícias... queremos ser atualizadas diariamente. Assim, nós duas também poderemos fazer nossos comentários maravilhosos diariamente.
    Saudades.
    Ângela e Olga diretamente da DaniBeach.

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  7. hahaha que público exigente e modesto que eu tenho!! :))

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