segunda-feira, 10 de novembro de 2014

A cereja do bolo

Isadora está com cinco meses. Claro que bebês são sempre incríveis, que crianças são surpreendentes e que passam por várias fases maravilhosas. Mas se for pra eu escolher o período top, o mês mais gostoso, eu escolho o quinto mês de vida!

Que delícia de época! Para começar, o bebê está fofíssimo, cheio de reações encantadoras, começando a dar gargalhadinhas, demais, demais, demais! Em termos de fofura é bem verdade que o bebê fica ainda mais fofo. Mas essa fase tem também outras coisas boas.

O bebê ainda não engatinha, então é fácil de cuidar.

O bebê ainda não come (ao menos no caso dos meus filhos), então não tem o lance das papinhas, que pra mim é trabalhoso, chatinho.

A amamentação está bem estabelecida, mais espaçada, dá para planejar melhor o dia.

E a rotina com o filho ficou natural, tudo se encaixa bem.

Me delicio com cada momento.

Beijo muito, acarinho muito, agradeço muito.

terça-feira, 14 de outubro de 2014

The awesome side of the "terrible twos"

Meu filho querido,

Já estás com quase dois anos e oito meses! Tu tens te desenvolvido tão bem, sempre surpreendendo a gente com teus aprendizados e tuas fofurices, que achei importante fazer o registro aqui.

Tu falas muito bem. Desenvolveste a linguagem rapidamente após completares dois anos e entrares pra escolinha. Conjugas os verbos e usas os pronomes perfeitamente. E até a letra R, como em Isadora, já estás falando.

Adoro como recontas as estórias dos livros que lemos juntos todas as noites. Tens uma fascinação especial por aquelas com o Lobo Mau. Mesmo contando três porquinhos na capa, tu insistes em dizer “dois porquinhos”! hehe Vai entender por quê!

Também é adorável como tantas vezes repetes em forma de pergunta o que acabamos de dizer:

- Filho, amanhã a gente vai na casa da vovó!
- A gente vai na casa da vovóóó?
- Sim, amanhã. Tem que dormir uma noite ainda!

OU

- Vamos almoçar?! Tem feijão que você adora hoje!
- Tem feijão que eu adoro hoje?

Contas de um a dez em vários idiomas: português, inglês, francês, espanhol e alemão. Aprendeste quando tinhas que “respirar” um remédio pra tosse por 10 segundos. Mamãe sempre contava numa língua diferente, até que vi um dia tu contando certinho! É demais! (Agora estás tomando homeopatia, são apenas cinco gotinhas... Será que vais esquecer os números de 6 a 10?)

É lindo de ver como gostas da tua irmã. Quando chegas da escola corres para cumprimentá-la; quando acordas de manhã, fazes questão de falar: “Oi, boneca, dormiu bem?” Mas o mais legal é quando fazes ela gargalhar com tuas palhaçadinhas! Na primeira vez que isso aconteceu, mamãe quase chorou de emoção!

Me encanta te ver expressando tua criatividade! Um pote de massinha em pedaços vira bolo de chocolate, que tu ofereces pra quem estiver em casa. Legos são sanduíches! Qualquer coisa compridinha pode virar uma vela que fazes a gente assoprar depois de cantar “Parabéns a você!”

Tua agilidade e coordenação motora nos esportes chama a atenção. Tens evoluído diariamente no basquete e hoje pela manhã te vi posicionando a cesta e depois a ti, longe quase dois metros, comemorando a cada cesta convertida ou dizendo “berrei” (insistes neste B aí na frente) quando erravas!

Outra curtição desportiva nossa é jogar com as raquetes de ping-pong. Já conseguimos contar até três toques seguidos sem a bola cair no chão! J

Curtes provocar teu pai até ele te pegar no colo bem apertado e tu me chamares: “Mãe, o papai tá me apertandoooooo!”

Nós também adoramos brincar de fazer caras: de feliz, brabo, assustado e triste! Esta última tu sempre fazes com um sorriso no rosto, mesmo eu explicando que cara de triste não sorri! Hehehe

Tua autonomia cresce dia a dia. Escolhes a roupa que queres vestir (desde antes dos dois anos de idade!), calças o tênis sozinho, queres tentar tudo por ti mesmo – pegar um copo d’água, escovar os dentes, dar descarga, lavar as mãos... Aprendes rápido, mas as meias ainda não consegues colocar!

Outra encarnação tua no momento é brincar de esconde-esconde! Pedes pra gente contar de um a dez. Quando terminamos e falamos “será que o Caio está embaixo da mesa?”, tu respondes “não!”, será que ele está atrás do sofá?”, “não! Tô aqui!”. Até que falamos “achei você!”, frase que também adoras dizer pra gente.

Sempre que experimentas uma comida nova e gostas, tu te expressas bem: “Hummmmmmm, gostei”. O “hummmmm” mais fofo que já escutei na vida!!!

Quando te pergunto do teu dia na escola, hoje já ganho respostas concretas. Sabes me dizer o que tinha no lanche, os amiguinhos com quem brincaste (com sobrenome e tudo!) e quem escolheu o animal da semana! (Pra constar, na tua vez escolheste a vaca!)

Que privilégio te acompanhar!

Me despeço de ti com um abraço daqueles bem fortes que só tu sabes me dar!

Te amo demais!


Mamãe

quinta-feira, 10 de julho de 2014

O segundo impacto

Que o primeiro filho é um impacto na vida dos pais, com isso (quase) todo mundo concorda. Eu escrevi sobre este impacto aqui.

Tende-se a pensar que o segundo filho não traz impacto nenhum. Afinal, sua vida já foi totalmente transformada com a chegada do primeiro.  Ledo engano! Há um choque, sim! Ele pode ser menor, diferente em alguns aspectos (iguais em outros), mas que há um impacto, há!

É verdade que nós pais lidamos com o bebê de forma mais tranquila, sem aquela ansiedade constante da primeira vez. É muuuito mais fácil deixar o bebê dormindo no quarto e ir pra sala, por exemplo. A gente sabe que ele vai ficar bem, que nada vai acontecer. A gente sabe que se ele tiver que chorar um pouquinho enquanto por qualquer razão não podemos atendê-lo, tudo bem também. A gente sabe sobretudo que é capaz de criar um ser humano, pois estamos sendo bem-sucedidos na missão com o primeiro filho.

Mas o desafio de passar pelo primeiro mês ainda existe. Nossa reviravolta hormonal das primeiras semanas ainda existe, portanto nossa hipersensibilidade está presente. Nossa visão das coisas que hiperdimensiona os acontecimentos está aí pra nos “liberar” angústias, preocupações, um certo “medo” do futuro, e todo o turbilhão de emoções típico dessa fase. Ao menos comigo foi assim.

O maior desafio esta vez foi/está sendo conciliar a rotina do filho mais velho com as necessidades do recém-chegado. Já não rola passar umas semanas na casa da mãe. Da maternidade vim direto pra minha casa.

Ainda em relação ao primogênito, o meu tem 2 anos e 4 meses hoje, ou seja, está no auge dos famosos “terrible twos”. E se ele ainda não tinha entrado na fase terrível, foi só trazer a Dora pra casa que o menino pirou, gente! Tudo passou a ser difícil com ele, que dava o contra pra qualquer coisa – pra vir jantar, tomar banho, trocar fralda, enfim, qualquer coisa que fosse pedida a ele. Isso sem falar nos berros, nas jogadas no chão, no choro falso mas alto imitando o da irmã... Caio nunca levou tanta bronca na vida, justo quando ele mais precisava de carinho... Aí junte a isso a sensibilidade materna e teremos como resultado muitas lágrimas! J Só pra constar, hoje, seis semanas depois, Caio está bem mais fácil de lidar – acho que ele entendeu que ainda tem seu espaço.

Outra consequência do impacto pra mim foi que eu não podia pensar no futuro – me dava muita aflição, pois eu não conseguia vislumbrar como eu ia dar conta de cuidar dos pequenos, da casa, cozinhar e ainda trabalhar (ainda que sejam umas poucas horas diárias), sem falar em cuidar de mim e do relacionamento com o maridão, né? Leve-se em conta que durante todas essas semanas minha mãe me ajudou muuuuuito, especialmente com comida. Ainda não tive que cozinhar uma refeição completa, por exemplo.

Além disso, me dava uma preguiça pensar em passar por todas as fases de novo. Eu só pensava em como eu gostaria de estar dois anos na frente, quando Dora já soubesse falar, dizer o que quer!

Ao falar do primeiro impacto eu comentei alguns pensamentos, digamos, “obscuros” que se passavam pela minha cabeça. Desta vez eu pensava o seguinte:

- entendo totalmente quem quer ter apenas um filho, quem escolhe não ter um segundo; é muito trampo passar por tudo isso de novo!

- o que eu fiz? Estava tão bem com um filho, a vida toda organizadinha, e agora ferrou tudo!

- me dava pena de quem estivesse grávida do segundo filho, ou do terceiro: coitada, vai ter que passar por tudo o que eu estou passando!

Enfim, os hormônios já estão mais equilibrados, Caio está melhor, Dora um pouquinho mais previsível, e assim eu já consigo olhar pro futuro e ver que eu vou dar conta, como de fato já estou dando. E após os primeiros sorrisos da minha filhinha, aos poucos o impacto vai perdendo espaço para o prazer. E eu sei que logo esse prazer é o que predominará...

Taí uma vantagem do segundo filho – não foram as pessoas que te disseram que “vai passar”, você SABE que passa... E isso conforta.

sexta-feira, 20 de junho de 2014

(Me) Parto

Bom, comecemos do começo.

Minha DPP (data provável do parto) oficial era 20/5, mas para mim era mesmo dia 18/5 – explico: eu sabia que tinha ovulado no 12º dia do ciclo menstrual, não no 14º, e o primeiro ultrassom de todos, o que dizem ser o mais preciso em relação à DPP, tinha dado 18/5. Além disso eu adoro o número 18. Então pra mim sempre foi dia 18/5.

Na consulta das 39 semanas a médica fez o toque e se empolgou! Isadora já estava bem embaixo – a obstetra podia tocar na cabecinha do neném! – e meu colo do útero estava bem molinho, flexível, prontinho para um trabalho de parto que poderia começar a qualquer momento. Tentando não criar muita expectativa em mim, ela acabou deixando claro que não passaria de uma semana!

A expectativa já tinha sido criada. Em mim, no meu marido, nos familiares e amigos mais próximos. Fui me organizando ainda mais, fiz uma compra grande de supermercado, limpei aqui, arrumei ali, aproveitei dias lindos de sol pra caminhar na praia... eu estava pronta pra Isadora. Mas os dias foram passando e nada!

No domingo 18/5, senti pequenas contrações o dia todo, o que se repetiu na segunda, mas ficou nisso. Liguei pra médica e marquei a consulta das 40 semanas, que ela achava que nem existiria! Novo toque e... dilatação de 2 cm. Apesar disso, esta vez ela não demonstrou mesmo que achava que ia ser logo. “Pode ser logo ou pode demorar mais” me disse, enquanto me dava uma requisição para um ultrassom caso a bebê não tivesse nascido até as 41 semanas.

Investi no chá de canela com gengibre (hot tea) e nos outros dois “hots” (hot sex, hot bath). Tinha dias em que sentia pequenas contrações, dias em que não. E mais uma semana foi passando. Quando chegou na sexta-feira, eu já tinha decidido que àquelas alturas era melhor que Dora não nascesse no sábado, pois era a festinha de aniversário de sete anos do meu afilhado, e eu nunca tinha conseguido ir numa festa de aniver dele (sempre estava na Nova Zelândia). Então estava bem a fim de ir nesta. Domingo ou segunda seria perfeito, pensei, assim evitaria um novo ultrassom e até mesmo um possível embate com a médica, que já tinha me deixado claro que não gostava de deixar passar das 41 semanas...

Fui na festa do Arthur, conversei bastante, peguei bebês no colo, comi horrores! Voltei pra casa me sentindo diferente. No entanto, busquei possíveis explicações para aquela tensão que eu sentia nitidamente na barriga e no baixo ventre – terei ficado muito de pé? Comido muito? Carregado os bebês por muito tempo?

A noite transcorreu tranquilamente. Mas..........acordei às 7 h da manhã sentindo contrações mais fortes do que as da semana anterior. Resolvi tomar um banho quente pra conferir se elas continuariam. Saí do banho e chamei o De – honey, tô achando que agora vai!

Uma hora e pouco depois, no café da manhã, eu já não conseguia nem sentar. As contrações estavam mais fortes e aconteciam a cada 3 minutos. Neste dia tinha almoço de aniversário da minha madrinha e meu primo nos Piacentini. Liguei pra mãe e disse: Acho que não vai dar pra ir na festa!

Comecei também a me comunicar com a Gabi, minha doula. Fui ao banheiro e vi o tampão. Estava tudo indo tão rápido que – confesso – eu já estava até pensando na anestesia, pois naquele momento eu adoraria deixar de sentir a dorzinha das contrações. Gabi falou pra eu ir pra maternidade para uma avaliação, afinal de 3 em 3 minutos já é alta frequência! Combinamos de nos encontrar lá, apenas disse a ela que passaria antes na casa da mãe pra deixar o Caio.

Domingo, 25/5, era dia de Iron Man (competição de triátlon realizada em Florianópolis), o que significava que diversas ruas e avenidas estariam fechadas para o evento, inclusive aqui no Sul da Ilha. Logo lembrei de minha prima que teve sua filha, há 10 anos, neste mesmo fim de semana e teve que ir para a maternidade pelo acostamento!

Dentro do carro as contrações já estavam acontecendo a cada dois minutos e já era impossível eu não me contorcer e não falar “ai, ai, ai”. Engarrafamento básico pra entrar pra Costeira, único acesso disponível nesse dia... Eu só pensava em chegar na maternidade. Nas contrações ouvia a vozinha do Caio: “Ajuda a mamãe, papai!”; “Vai passar, mamãe!”, em meio a um risinho nervoso da parte dele... Liguei pra mãe e pedi pra eles irem pegar o Caio no hospital; não ia dar pra passar na casa deles.

Finalmente chegamos na maternidade. Eram umas 10 h e pouco da manhã. Ainda consegui dizer meu endereço, número de telefones, CPF, etc. entre uma contração e outra! Hehehe A moça da recepção disse que a Dra. Paula já ia me examinar. Fiquei feliz ao ouvir um nome de mulher (eu ia ter com o médico plantonista mesmo). Enquanto a Dra. Paula não vinha, a própria recepcionista já pediu meus documentos dizendo que pelo visto eu ia mesmo ser internada. Meus pais chegaram, dei tchau pro meu filho querido e segui no ai ai ai.

De repente, ploc... ahhhhh (isso foi eu dando um gritinho de susto) e aquele quentinho perna abaixo. A bolsa estourou! Fiquei uma estátua no meio da poça enquanto as meninas diziam pra eu não me preocupar que já iam vir limpar isso!

Chegou a doutora. Ufa! Eram 10h40. Simpatizei com a Dra. Paula na hora – ela tinha um olhar doce e uma voz suave. Que sorte a minha, pensei! Entre uma contração e outra ela me examinou e pasmem! Eu já estava com 9 cm de dilatação.  Me encaminharam para a sala de parto normal e logo a Gabi Doula chegou! Ai, que bom! Agora minha equipe de apoio – De e Gabi – estava completa!

Eu só pensava em entrar na banheira e sentir o alívio do quentinho da água. Enquanto enchia fui pro chuveiro. E depois de esperar váaarios minutos, a banheira cheia, o termostato marcando 37 graus, quando chego lá a água está fria!! Banheira out of order! Que frustração! Eu tinha sonhado tanto com a banheira! Mas bola pra frente. Voltei pro chuveiro!

Um tempo depois, nova checagem e eu já estava com 10 cm de dilatação. Devia ser umas 11 h e pouco e todo mundo neste momento achou que logo, logo, Dora estaria aqui. Parecia que estava quase!

Mas o tempo foi passando, as contrações foram aumentando e eu fui mudando de posição. Do chuveiro pra em pé apoiada na cama, em pé apoiada na bola de pilates na cama, ajoelhada apoiada na cama... tudo o que eu queria era curvar a minha coluna o máximo possível durante as contrações.

Cada posição que eu fazia, Gabi trazia recursos pra me deixar mais confortável, mas o melhor de tudo foi a massagem que ela fez na minhas costas em cada uma das contrações que eu tive até o final. Que diferença que fazia pra amainar a dor!! Se acaso por alguma razão ela tivesse saído do meu lado nos intervalos, bastava a contração iniciar que eu via Gabi saindo correndo em minha direção pra colocar suas mãos mágicas nas minhas costas. Teve momentos que eu nem queria massagem; bastava ela pousar suas mãos na região onde doía que aquilo me aliviava.

Não tinha mais ninguém em trabalho de parto na maternidade naquele dia. Eu tinha a equipe toda só pra mim! Isso fez com que a Dra. Paula acompanhasse praticamente meu parto inteiro e eu adorei a postura dela. Sempre me deixando a vontade, procurando também contribuir para meu alívio e me motivar.

Na hora do almoço comecei a me sentir cansada, afinal eu mal tinha comido uma fatia de mamão pela manhã! Decarlos pegou uma barrinha de cereal pra mim e eu continuei tomando muita água – desde o começo me dava muita sede.

Passei um tempão ajoelhada no chão (com toalhas amortecendo cada um dos meus joelhos – providência da Gabi), com o tronco apoiado na cama, a Gabi cuidando das minhas costas, a médica sentada no chão ao meu lado às vezes fazendo um carinho na minha perna durante as contrações que – acreditem – trazia mais um aliviozinho pra dor, e o De na minha frente, do outro lado da cama, me dando as mãos, que eu apertava com toda a força. Nos pequenos intervalos, eu ficava estátua, fechava os olhos e só queria curtir o alívio do momento, não me mexia, poucas vezes falava, eu só queria respirar.

A cada 10 minutos a médica checava o coração da Dora e estava sempre tudo bem com ela. Ela vinha descendo, gradativamente, va-ga-ro-sa-men-te... Eu já estava pedindo “vem, filha, vem”... Todos me diziam “está quase”, mas pra mim ficou tempo demais no “quase”. Duas Dulces começaram a conversar na minha cabeça:

- Vou pedir anestesia; não aguento mais.

- Tu sabes que a Gabi e a Dra. Paula vão te dizer que está quase, que não vale a pena, e tu vais aceitar isso. No fundo, tu sabes que aguentas e que não queres anestesia quando já estás com dilatação total e quando falta tão pouco!

- Ah, mas vou pedir mesmo assim. Preciso verbalizar isso e ouvir elas dizerem o que eu sei que elas vão dizer!

E foi o que eu fiz. Pedi anestesia, pedi alguma coisa para agilizar o processo, falei que estava cansada, perguntei quanto tempo eu ainda ia ter que aguentar a dor, tudo sabendo que eu ia continuar exatamente onde estava... isto é, sem intervenções!

Diante de toda a minha manifestação, Gabi me achou meio ansiosa e me sugeriu voltar pro chuveiro, já que eu tinha gostado tanto do alívio da água. Aceitei a sugestão. Deveria ser umas 14 h.

Andei da cama até lá, fui pra debaixo da água e de repente, assim sem mais nem menos, sem aviso prévio, entrei no expulsivo!

...
...
...
...

Essa pausa é porque chega a ser difícil pra mim explicar o que senti... Ninguém nunca me falou da sensação do expulsivo, ninguém me preparou para aquele momento (bem que a doula tentou, me recomendando uma roda de conversa sobre o tema à qual eu não pude ir)!

Ao sentir meu corpo se abrindo, a sensação de que eu ia literalmente me rasgar ao meio, senti um choque, um pânico! Eu já nem berrava mais – urrar é o verbo mais adequado... Acho que é no expulsivo que a gente se conecta com as nossas ancestrais, com a mãe-terra, com a essência do feminino, com a energia fundamental que trouxe a humanidade até aqui, com o que de mais animal (no melhor sentido do termo) há na nossa natureza.

What the hell is going on?? Gabi, eu vou me rasgar!! E ela: não vai, não, Dulce! A Dora tá vindo! Deixa acontecer! Mas a vontade era mesmo me trancar toda, me segurar inteira... Eu não queria me partir...! Até entendi melhor por que esse momento se chama “parto”... Não deve ser à toa!

A partir daí já não havia mais alívio entre as contrações! Toda a parte de baixo do meu corpo se esticava... Gabi chamou a doutora. Ela fechou o chuveiro (na hora eu pensei: liga essa p...!) e tentou se posicionar ali, mas acho que não deu muito certo porque ela insistiu pra eu ir pra cama, sugeriu a posição de quatro que, pelo acompanhamento do parto, ela sabia que me traria algum alívio. Entre mais uma ou duas contrações, urros e desespero da minha parte, eu disse que não conseguiria andar até a cama! Ela disse que eu conseguiria sim, e foi me levando, me dando apoio.

Mal cheguei na cama e veio outra contração. E acho que mais outra. Já nem sei... Já estava na partolândia. Eu precisava da mão do De na minha, eu quase mordia a mão dele entre um grito e outro...

Aí eu ouço a Dra. Paula me falar que eu estava começando a ter uma laceração. Ela me perguntou se não era melhor eu virar pra ela poder fazer uma episiotomia. Gente, eu jamais iria conseguir virar no meio daquele turbilhão e sentir uma contração daquelas deitadinha de costas na cama! JAMAIS!! Tentei deixar isso claro, mas ela insistiu...! Meti a Gabi na fogueira e perguntei: o que achas? Ela tentou dar sua opinião sem parecer uma afronta à médica e à enfermeira, que chegou junto e disse: vamos virar ela, doutora! Escutei ao longe Gabi dizendo: espera só mais uma! Ao mesmo tempo em que eu gritava: não vai dar teeempoooooo!

E veio mais uma contração. A derradeira. A contração pré-paraíso. Claro que eu não sabia que seria a última... eu estava lá mordendo a mão do De e berrando ao mesmo tempo, quando de repente tive aquela outra sensação. Foi quase um ploc de novo (como o do rompimento da bolsa)... E quando olhei pra baixo (lembrem-se que eu estava de quatro), lá estava ela, a minha Isadora, no meio de um monte de líquido de cor diferente, chorando, sendo amparada pela Dra. Paula e pela pediatra... Eram 2:18 h da tarde.

Nasceu!, eu disse. E, de um segundo pro outro, eu não sentia mais dor nenhuma, mas sim uma emoção (cá entre nós, nesse momentinho era mais de alívio do que de amor. Desculpa a sinceridade, gente!). Ufa, acabou! Agora é só alegria! J

As médicas passaram a Dora por debaixo do meu corpo, com o cordão umbilical ainda nos conectando (bem como estava no meu plano de parto), para eu poder ver a carinha dela direito!

Depois de uns minutinhos, o cordão foi cortado. Consegui me virar e deitar na cama, Gabi me ofereceu algo pra comer, e enquanto a pediatra examinava minha filha, a médica dava os pontos na laceração que tinha ocorrido (nem de longe tão grave quanto no parto do Caio).

Em poucos minutos, Dora estava mamando, com a eficiência e perfeição de quem tivesse feito aquilo a vida toda!

Com a expulsão da placenta, eu estava pronta para tomar um banho e ir para o quarto, andando por meus próprios pés, me sentindo forte e bem.

Olhei “para trás” e me senti contente por ter tido a felicidade de passar por um parto sem intervenção de nenhum tipo e pelo privilégio de sentir o expulsivo como ele é, na pele, no físico, no coração e na alma. Olhei para frente e senti a satisfação de estar pronta, com todas as minhas capacidades, para partilhar minha vida com este ser humano que cresceu em mim, que me partiu em novas Dulces. Se naquele precioso instante, quando nasceu Isadora, não nasceu também uma mãe, pois mãe eu já era, criou-se em mim uma nova mulher, que fez escolhas conscientes sobre o seu parto e as teve respeitadas, que teve um plano de parto que se cumpriu num país onde as estatísticas são chocantes e a violência obstétrica uma triste realidade. A Dulce que partiu da maternidade foi empoderada pela beleza de um parto natural que, não há dúvidas, mãe e filha, com um apoio essencial, conseguiram juntas.

Desejei que todas as mulheres, ao parirem, possam se sentir como eu me senti. 

Mais uma vez, parto feliz.

domingo, 11 de maio de 2014

O SEGUNDO “TOMBO”

No primeiro post que escrevi para este blog eu falei sobre a descoberta da minha primeira gravidez. Terminei com as seguintes palavras: “Mais tarde, me dou conta e caio em mim... Caio em minha vida.”

Hoje venho falar de outra vez que “caí em mim”. Outro desses tombos sublimes. Mas eu não estou falando de uma queda propriamente dita.

No dicionário, a palavra “tombo” tem vários significados; uns que explicam melhor o que quero dizer.

DO HOUAISS:

Regionalismo: Brasil. Uso: informal.
habilidade física ou mental de uma pessoa; capacidade, perícia, gênio, inclinação
Regionalismo: Brasil. Estatística: pouco usado.
designação que se dá a uma pessoa para significar que ela é ativa, diligente etc.


Ou seja, estou falando desses tombos que te promovem capacidades, que te deixam mais ativa ante a vida, mais diligente. São tombos que são presentes (de Deus, da vida, do Universo...), são por isso tombos sublimes.

Quando Caio completou um ano de idade, decidimos que eu pararia com o anticoncepcional. Um mês tomando ácido fólico e dando um tempo ao organismo, e depois disso abrir corpo, mente e alma pra receber a dádiva.

Nos três primeiros meses de tentativa eu SEMPRE achava que tinha engravidado, sentia “sintomas”, comprava o teste e... negativo. Na terceira vez cheguei a fazer o exame de sangue, tamanha a minha certeza de gravidez! Eu não acreditava nos negativos dos três testes de farmácia que tinha feito, pode? No sétimo dia de atraso da menstruação, tive que aceitar... Meu período veio então no dia seguinte. Nunca antes na vida tive tamanho atraso... Mas a mente é mesmo poderosa, não é?

Decidi ver uma médica. Na Nova Zelândia, deve-se consultar primeiro um clínico geral. Tenho a sorte de ter uma amiga trabalhando numa clínica que marcou uma consulta pra mim com uma GP (General Practitioner) que tinha trabalhado anos como obstetra. Conversamos bastante e o papo com a médica me acalmou. Combinamos que eu relaxaria durante os próximos três meses, e que se não desse nada, eu voltaria lá pra fazer alguns exames. Coincidentemente, seriam também os nossos últimos três meses na NZ, antes de mudarmos de volta ao Brasil. Consegui mesmo desencanar. E nos três meses seguintes, ao contrário dos primeiros, eu logo tinha a certeza que não tinha engravidado.

Eu queria muito, muito chegar grávida no Brasil, poder já dividir a notícia com as pessoas pessoalmente (qualquer semelhança com a primeira gravidez não é mera coincidência!). Mas uma semana depois do período fértil no sexto mês de tentativa, como eu não tinha sentido nada de diferente, eu logo assumi que não tinha dado de novo. Bateu aquela tristezinha básica, mas bola pra frente. Nesse período pré-mudança de país, com mil coisas pra fazer, a verdade é que eu nem tive muito tempo pra ficar remoendo isso.

Até que chegou o dia de ficar menstruada e nada. Mas atrasos de alguns dias podem ser comuns... No dia seguinte, à noite, ao colocar o pijama, este raspa no meu peito e.....  aiiii, doeu! Opa! Entre todos os sintomas de gestação, o único que eu considerava exclusivo de gravidez era justamente a sensibilidade extrema nos mamilos, que eu não tinha de fato sentido nos meses em que achei que estivesse grávida! ... Será? E o medo de fazer o teste agora? Esperei mais uns três dias e resolvi encarar.

Era hora do almoço do dia 30 de agosto de 2013. Estávamos só eu e Caio em casa. Não demorou dez segundos pros dois risquinhos aparecerem no teste... e não demorou cinco segundos para as lágrimas caírem. Lágrimas que caem, que tombam, que me certificam de minha “habilidade física” divina de gerar uma vida, que me falam de minha “inclinação” para ser mãe mais uma vez, que me despertam este zelo instintivo, esta “diligência” natural que nós mães temos em relação aos nossos filhos. Novamente caio em mim, em minha vida. Sinto a sublimidade de um segundo tombo.

Viro para o Caio e digo: “Filho, a tua irmã chegou!”